Depois de um choque elétrico, no ferro de passar roupas, passei a resgatar seletivas lembranças. Pena.
O cérebro é um labirinto que fragmenta as informações e as espalha em pedaços, que, em alguns casos, não conseguem mais se organizar. Se é mesmo assim, o meu tem mais circunvoluções do que Cnossos, aquele que mantinha o Minotauro a distância. Tão distante para mim como é conseguir evocar nomes, a maior das minhas dificuldades. Acima de não gostar de esporte, em uma partida, não repito uma escalação além do técnico e, quem sabe, do bandeirinha, este, porque é o último a ser citado, e só se imediatamente. Cinema, adoro, mas não me perguntem elenco porque confundo Carlitos com Oscarito, Jacqueline Depardieu com Gérard Bisset. O que salva é que tenho memória fotográfica e raciocínio lógico aguçados, logo, posso não saber teu nome mas lembro detalhes úteis, ou nem tanto, que me reportam desde o dia que conheci até a cor da roupa do último encontro e a relação disto com o clima, nem sempre ameno.
À maioria das pessoas é dado o consolo de perdoar, por olvido, um desafeto. Eu perdôo sempre, ou, na maioria das vezes. Para isso jogo os fatos desagradáveis no mesmo caminho dos nominativos e bastam algumas voltas neste enredo para apagar o que me fizeram e seguir o convívio até um próximo arrependimento.
Pois andei levando um choque, um curto no ferro circuitado. Dai me surgiram fatos - antes do que as alcunhas- juntos como punhaladas; reouvi a palavra mal dita, a agressão desmotivada, a dor do aprontamento e a decepção pela traição de um amigo. Preferia ter mantido a amnésia a ter dado vinco a rusgas do passado.
Hoje levei um choque e, - como é mesmo teu nome? – não te quero mais comigo!
2 comentários:
Caro Camafunga, eu também (quase) sempre perdôo. Mas faço como os elefantes, que nunca esquecem.
Esse negócio de nomes é o terror dos meus afetos médios. Sabe aqueles colegas, amigos de longe?! Lembrar o nome de um deles - só com um choque desses aí!!!
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