Street photography e alguns textos, porque nunca se sabe o que pode passar pela cabeça ou pela frente.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Retomando

Depois de um hiato de quase dez anos, naquele sem querer que faz parte de um novo movimento, voltei ao ímpeto de escrever. Talvez tenha me entusiasmado com as crônicas de um argentino que me foi apresentado, mas o tempo das postagens do Blog do Camafunga,  esquecidas e bloqueadas, inacessíveis, parece querer voltar.

Entre tantos, encontro este texto, e comento com meu filho, hoje um adulto barbado, que sequer lembrava de te-lo escrito,  nem este, nem a maioria dos centenas que preencheram aquele espaço, mas Matheus observa, objetivo e irônico como sempre: "Quais textos? Aqueles que quase acabaram com nosso convívio? Como não lembras se passavas tanto tempo fechado no quarto enterrado no teclado pedindo para não ser atrapalhado?". 

São outros tempos, não tenho a audiência que me acompanhava, nem a oportunidade inesperada de ter feito parte de uma coletânea literária lida em um podcast em Portugal. Virei fotógrafo e esqueci as crônicas, mas entre as antigas revisitadas e algumas que ainda possa  voltar a escrever, vou traze-las novamente a este espaço.


Delivery

"Com licença, foi daqui que pediram calma?

Desculpa mas estamos tendo dificuldades em atender estas novas demandas. Ontem nos pediram tempo, mercadoria rara e escassa, sem pronta entrega, quando chega já é tarde. Quando é por unidade então a  gente tenta, avisa que é bobagem porque depois de pedir um tempo geralmente é porque não tem mais volta, o tempo por si não volta, as pessoas também não esperam, é como dizem, a fila anda. Depois, muitos  nem sabem que uso vão fazer com o tempo, a maioria aproveita mal, custa caro mas não vale nada.

Há quem peça arrego, nossa, como pedem arrego. A primeira vez tivemos que recorrer ao dicionário: "ajuda, implorar perdão". Como carregar isso? Cabe nas costas? Este até pode atrasar porque quem pede espera.  E tem arrego para tudo, para empresa, banco, relacionamento. Na linha financeira tem quem peça por atacado. Tem arrego recorrente, mas esse perde valor e credibilidade. Para quem insiste  tem um kit, acompanhado por pinico. Pedir pinico, embora tenha saído um pouco de moda, é quase a mesma coisa que arrego, mas já sabe, vai  levar mijada.

Pedir água, o que não é literalmente líquido, nos confunde, já  mandamos galão na hora errada. Pedir água é desistir, como abandonar o barco, é um pedido extremo, que geralmente vem depois do arrego mas não pode ser antes do tempo.

Enfim ...
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Foi daqui que pediram calma?"

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