Street photography e alguns textos, porque nunca se sabe o que pode passar pela cabeça ou pela frente.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Conto
Por onde começar?
Primeiro a luz aqui não é boa, dá reflexo na tela. Depois, minhas mãos estão suadas e fica desagradável digitar assim. Os olhos estão cansados por tanto tempo sem ver o sol nestas paredes brancas, e a cadeira, fica baixa e pouco desconfortável.
Apaguei todas as lâmpadas fluorescentes. Achei no fundo da mochila um óculos de aproximação e ja estou sobre uma almofada, mas o sol, deixo só amanhã quando respirar a liberdade. Agora, é só secar as mãos, e estarei pronto.
A história:
Marina chora e reclama por insatisfação de uma vida não mais desejada. Fala horas a mesma coisa, repete o que já deve ter dito a outros como se fosse a prima fala. Não quer voltar para casa, a origem de tanta angústia, nem ficar na rua para enfrentar o povo, esta com raiva do mundo.
Salestiano sai da escola pensando que amanhã tem volta, não entende quem criou e mantém este rotina, mas é jovem demais para saber como rebelar-se, então, apenas deseja ficar doente para poder permanecer em casa.
Marina, mais uma vez chega antes do tempo, tão cedo, quanto lhe disseram que era para ter tido o primeiro filho. Faz café isento de adoçante e, sem perceber, repete a lamúria sobre mães amargas.
Tem roupa para ser arrumada, lixo jogado nos pratos, farelos por todos os lados. Seu sonho que era ter sido órfã, agora, é ter menos responsabilidades, ou, pelo menos ter com quem dividi-las.
Ali passa um gato manco, sobe no banco pintado de branco, e uma coleção de almofadas.
Salê prefere o apelido, a avó o faz padecer de vergonha desde o primeiro dia de aula. -"O menino vem do norte?". -"Acaso é filho de Bahiano?". Não, sou Salestiano, promessa de quimbanda da velha que não me queria. Foi ela quem envolta a rezas, de todas as preces aprendidas, praguejou não te-lo perdido.
Há mais mofo do que piso por debaixo dos armários, além de onde a lingua do felino alcança os farelos crescem como bolos, o cheiro só é suportável porque rebaixa a escuridão das peças ao olfato e cega o bicho que tropeça. O gato, que não tem nem apego, nem tem nome, apela pela água no prato.
Marina espera na esquina, fuma seus pensamentos em cada oportunidade alheia. Lamenta sua roupa gasta, a pouca idade e a maternidade. Salê permanece no quarto, o gato limpa o suor dos meus dedos. E eu, sem saber por que, me sinto mais confortável.
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