As janelas vão ficar fechadas. Não sei como, mesmo sendo tão alto, bem acima dos postes da rua, a luz invade com seu tom amarelado o minúsculo apartamento. Penso, se vou até a janela alimentar esta languidez, ou permaneço olhando para o teto tentando ordernar meus espectros. A casa não é minha, mas sei o lugar das coisas mais essenciais, tem algo para beber na geladeira, e uma coleção de discos antigos aqui ao lado.
Da rua, já dei tantas voltas nestas quadras que estou versado nas entradas e vielas até então desconhecidas. O tom esmaecido dos prédios antigos agora os trouxe para dentro. As janelas vão ficar fechadas mas a radiação descorada deixa ictérico os panos e minha pele. Abraço forte a almofada até reter seu aroma, estou cercado de fantasmas, escolho olhar para fora.
Poucos passam por aqui nestas horas e tenho a impressão de conhecer meus companheiros, mas são todos tão parecidos. Não sei se tenho fome além da bebida solteira do fundo da geladeira. Aqui ainda se escuta vinil, mas a casa não é minha, enfrento o trabalho de levantar a tampa do prato, e desensacar o disco, e sentir a estática, atiça meus espectros, o som precedido por chiados, era só o que faltava.
Diário da MOrsa
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