Acordei hoje as 4 da manhã sentindo um pouco de frio, puxei o edredom em ato que tanto desejei durante aquelas noites quentes, virei, mas perdi o sono. Não tenho mais tosse ou febre, talvez ainda chie o peito, tudo poderia ser conforto mas permanece aquela desagradável e angustiante respiração forçada. Então, lembrei de tanta gente, como se um a um viessem me acatar o sono - tu foste um deles- talvez porque mesmo dormindo devessem estar em sintonia.
Não tem sido fácil, acho que senti o frio de quem está sem casa, o sofrer dos que perderam tudo, a dor maior dos que perderam os entes. Quase pedi que o calor voltasse, meu edredom parecia de pedra. Lembrei dos dias que passeávamos pelas ruas da cidade, dos tantos roles de bicicleta, das descobertas de uma urbe que disfarçada também podia ser triste e descuidada, mas que mesmo velha só trazia novidades, e foram tantas e tão prazerosas que até esqueci o que era uma cidade porque ali importavam mesmo eram os tantos afetos que me cercavam. “Porto Alegre é uma cidade feia”, “Porto Alegre é uma cidade fria”, “Porto Alegre é uma cidade suja” , assim diziam aqueles que não queriam que eu me afastasse, nunca foi nada disso, para mim, Porto Alegre, foi meu melhor cenário.
Acordei as 4 da manhã e não consegui nem dormir, nem sequer ficar
deitado, talvez meu peito chie porque retenha um grito, por ora estou longe e queito em meu abrigo, mesmo só também vos sinto. Quero que tudo volte, quero poder
receber abraços suados e caminhar
por lugares secos, quero que meu peito acalme, e assim, quem sabe, também deitar e dormir
sereno.
Pelotas, esperando as águas, 12 de maio de 2024