Street photography e alguns textos, porque nunca se sabe o que pode passar pela cabeça ou pela frente.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Regador

Chego agora depois de visitar meus velhos. Chamo de velhos o pessoal das casas geriátricas que, com muito prazer, eu cuido.

Quando estudante pensei em fazer geriatria, meus parentes, ainda jovens, diziam que era para cuida-los. Hoje, eles nem tão idosos, e eu não passo nem aspirina para alguém que seja próximo. A promessa de ser especialista da terceira idade não por formação, mas ao acaso, e da boa relação que tenho com estes.

Mais de uma vez escrevi sobre minha avó e sua tumultuada convivência com o resto da família. Excessão a mim, e a um ou outro escolhido. Esta era sogra de meu pai e por contigências da vida veio morar conosco bem no final de carreira. Enquanto apta, e excelente cozinheira, serviu a um tio que a doou após a primeira quebra de bacia. Foram duas, a derradeira que a deixou de cama por um longo período levou o movimento e o tino, quase que simultâneamente. Ai agravaram-se as diferenças, e a estranha senilidade permitia o separado reconhecimento apenas de quem interessava. Eu fui o último a fugir da memória, e o único a quem, por carinho, ainda tinha algum respeito.

(segue)

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